os enigmas (jorge luis borges, 1899–1986)

Eu que sou o que agora está cantando
amanhã serei o misterioso, o morto,
o morador de um mágico e deserto
orbe sem antes, nem depois, nem quando.

Assim afirma a mística. E eu
me sinto indigno do Inferno e da Glória,
porém não vaticino. Nossa história
é mutante como as formas de Proteu.

Que errante labirinto, que brancura
cega de resplendor será minha sorte,
quando me entregue o fim desta aventura
a curiosa experiência da minha morte?

Quero beber seu cristalino Olvido;
ser para sempre, sem jamais ter sido.

(original: https://www.poesi.as/jlb0546.htm)